A noiva de Perdizes

Eis que somos transportados para a região sudeste de um país tropical sul-americano de exclusivas características. Dirigindo-se ao estado mais rico da união. Aproximando-se da Zona Oeste de sua capital administrativa, em meio a um emaranhado de prédios, automóveis, buzinas e pedestres, encontra-se o bairro de Perdizes. E exatamente lá, caminhando pela rua Turiassú, estava ela.

Caminhando a passos firmes, porém leves, usava um salto alto 10 cm que acabara de comprar, pois não conseguiu resistir 5 minutos ao olhá-los na sacola da loja. E enquanto andava, não havia um olhar na calçada o qual não despertá-se. Era sem dúvida uma linda mulher! O que se deixava transparecer muito bem em seu rosto de exatos trinta anos completos, que para os especialistas( entende-se apaixonados pelo sexo feminino), é a melhor idade da mulher. Possuia longos cabelos morenos e uns olhos verdes. Daqueles que quem possui alma literária, poderia denominá-los olhos de ressaca. Usava uma roupa social com uma saia abaixo dos joelhos que lhe proporcionavam um ar de importância. E um pequeno anel áureo no dedo anelar de sua mão direita o qual mal conseguia tirar os olhos quase todos os dias.

Acabara de cruzar a Av. Pompeia e agora que estava perto de casa começava a elaborar os seus compromissos com o resto do dia. Havia passado no shopping Bourbon, com a intenção de comprar uma roupa nova para a ocasião que lhe aguardava naquele final de semana. E residindo a um cruzamento de duas ruas de um enorme shopping paulistano, optou por ir a pé. Sorriu para a guarita posta em frente ao seu edifício, entrara. Oitavo andar, finalmente chegara de volta.

Ao entrar em seu apartamento, realizou uma cena que nós brasileiros não poderíamos encarar como habitual. Jogou as sacolas de compras no sofá da sala de estar e de imediato, apertou o botão da secretária eletrônica de seu telefone, enquanto se dirigia ao espelho da suite. Foi então ai que ouviu o primeiro recado: " Boa tarde meu bem. Estou ligando pra dizer que tá tudo combinado. Essa nossa ideia de marcar um casamento assim de surpresa realmente surpreendeu a todos. Minha mãe disse estar super ansiosa com o jantar neste domingo. Ah sim não posso esquecer. Gostaria de me encontrar com você hoje. Que tal um jantar esta noite? No Spot? As nove horas? Espero sua ligação. Um beijo"
Ao terminar de ouvir o recado, o sorriso nos lábios dela era algo entre malicioso e irônico. Sabia que sua futura sogra jamais estaria empolgada. Que as poucas vezes em que se encontraram, enquanto ainda era apenas namorada de seu filho, seu olhar era de reprovação extrema. E sabia que seu noivo era, de certa forma, um filinho da mamãe. A velha devia estar possessa de ódio! Mas de qualquer modo, aquilo não a preocupava naquele exato momento. Saiu de seu quarto e foi a cozinha pegar um copo d'agua. Aquele apartamento era, sem dúvida, exageradamente grande para uma pessoa só. Mas ela nem se importava com isto. Tinha na verdade orgulho do mesmo. Conseguiu aquele imóvel com dinheiro do próprio trabalho e aquilo era seu maior troféu. Precisava se arrumar. Pegou o telefone e discou um número de cabeça. O relógio marcava exatas seis horas da tarde.

Foi um demorado processo até que se sentisse adequada para poder se sair de casa. Nada mais que duas horas de roupas jogadas em cima da cama e um ligeiro stress. Agora se encontrava de frente a um comprido espelho. Olhando-se de perfil e acariciando a roupa com as duas mãos, como se procura-se algum defeito. Diferente mente de seu noivo e colegas de trabalho, nossa noiva de perdizes não era paulista. Não falava sussa, não pronunciava [nâão] pelo nariz e nem chamava semáforo de farol. Naturalizada de Minas Gerais, veio para São Paulo para iniciar seus estudos universitários e fatalmente, foi construindo sua vida profissional pelos caminhos que a cidade ofereceu. Sempre tentava voltar, quando podia, para Uberaba, mas já havia muitos anos que morava sozinha na metrópole que estava. Morando tantos anos na capital paulista, jamais perdeu suas raízes. Embora, seu sotaque já tivesse perdido a força depois de tantos anos. Ainda sim, conservava em sua fala um ar sutilmente ingênuo e gostoso de se ouvir típico, que deixa muitos homens loucos. Assim como a beleza que sua terra natal lhe deu de presente. Fato que se pode afirmar de alto e bom som: Que homem não gosta de uma mineirinha?

Oito e meia da noite marcava o relógio e já estava de saída. Pegou o interfone e disse, quase imediatamente:

- Boa noite, você poderia tirar o meu carro. Apartamento 81? Obrigada

Pois é claro, uma ida até Cerqueira César, não poderia ser feita gastando a sola de um salto alto. Desceu enfim até a garagem e lá estava a sua espera seu Mini Cooper preto de teto branco que ela julgava ser a coisa mais bela do mundo. Seguiu estrada fora até o restaurante.

Passando pelas ruas iluminadas de seu bairro, começou a refletir sozinha, em meio a uma restrospectiva, como Perdizes tinha se tornando uma referência de localização desde que ela começou a morar na cidade. Assim que iniciou seus estudos de comunicação social na Pontíficia Universidade Católica jamais abandonara aquele bairro. Claro que não havia comparação entre o apartamento onde ela morava ao iniciar seus estudos, bem próximo a universidade e onde ela agora residia.

Entrando agora próximo a Zona Sul da cidade, decidiu entrar pela Av. Paulista. Naquela noite, estava exclusivamente mais bela. havia se esquecido da época festiva que se aproximava e as luzes e decorações de natal da avenida a fizeram sentir uma gratificação muito grande. Era 8 de Dezembro e toda a Paulista parecia estar pronta para o Natal. Era algo bonito de se ver. Todos os prédios iluminados, árvores, canções em cada poste e até a palco do reveillon estava a caráter. Tomou a esquerda e desceu pela Ministro Rocha Azevedo. Avistou o local. Deixou o carro no valet e desceu. Chegara




(continua...)

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