Encontros e despedidas


É hoje.Hoje é dia 29 daqui a pouco eu vou pra São Paulo.Engraçado,eu ja tava encarando esta viagem tão bem, mas hoje eu acordei com uma sensação estranha.Dai eu pensei comigo: nada melhor do que escrever tudo aqui.Sei que o leitor já deve está de saco cheio dos meus desabafos aqui contudo, é bom saber que tem sempre alguem ai do outro lado lendo e prestando atenção no que eu falo.E além de tudo, eu tento me esforçar para que este blog aqui não fique parecendo um "querido diário" mas sim um local onde eu queira escrever o que der na telha.
Falando sobre o churrasco.Acordei no dia seguinte com uma ressaca! Acredito que, as pessoas que me conhecem bem, sabem que me derrubar com bebida e bem difícil.E talvez, eu nem parecesse ruim na terça, mas nossa como eu bebi.Mesmo assim, acho que foi bom isso, porque depois que eu já tô meio alto eu paro de ficar me censurando, o que é uma grande característica minha, eu sempre penso bastante antes de falar algo sério, as vezes até demais.Ou seja, acho que não tem momento que eu vou está mais sincero que depois de umas doses.Foi exatamente assim que eu fiquei no churrasco.Todo mundo que veio conversar comigo ouviu tudo o que eu realmente penso. E antes que você comece a pensar, sim eu me lembro de tudo.
Obrigado de coração a todos que compareceram.Significou muito pra mim.Ainda mais, em uma situação como essa de um churrasco em plena terça-feira.Tenho certeza de que as pessoas que compareceram tiveram de se sacrificar para estar aqui.Não quero contudo, dizer com isso que desmereço as pessoas que não apareceram no churrasco. pelo contrário, muitos que não puderam estar aqui me tefefonaram, conversaram comigo e disseram que fariam o possível para ir.Só isso pra mim, já valeu.Agora é claro que teve algumas exceções.Teve quem perdeu o churrasco por burrice mesmo, porque achou que ele era na quinta-feira(isso que dá não ler o convite) e teve também alguns que nem deram satisfação.Ai sim eu achei sacanagem.Teve até quem perdeu o churrasco e a minha festa de 18 anos e não falou nada.Mas enfim, cada um tem sua consciencia sobre o que faz.Só teve um caso que eu achei até graça.Eu tenho um amigo que foi meu amigo de infância desde a 2ª série do Mackenzie e nós nos reencontramos no pré-vestibular.Contudo, mesmo sendo meu brother de infância ele era muito anti-social.Chamei ele para minha festa ele não veio(não deu explicação), uma grande amiga minha deu uma festa e mesmo convidado ele não foi, todo os programas que eu e meus amigos do cursinho faziamos ele nunca ia, mesmo sendo sempre chamado e no meu churrasco ele também não apareceu.O melhor de tudo, é que ele mora no Condomínio Jardim Botânico V que fica bem pertinho da minha casa.Muito otário, mas se ele gosta de ser assim, deixa ele.
Vou aproveitar este momento para pedir desculpa a um amigo meu que eu esqueci de convidar por idiotice minha mesmo.Quem é meu amigo sabe que as vezes eu fico meio lerdo.Eu chamei, relativamente, muita gente para vir aqui em casa e eu não lembrei que esteva esquecendo alguém. A minha sorte, foi que ele ficou sabendo do churrasco e veio.Isso eu achei bem legal porque tem gente que ficaria chateada e não viria.Ele chegou com uma galera e eu achei aquilo natural, como se eu tivesse mesmo convidado ele.Tenho certeza de que se ele não tivesse falado isso pra mim eu nunca iria me tocar de que tinha esquecido.Lerdeza minha mesmo.Foi muita consideração dele ter vindo.Brigadão mesmo.
Com relação aos micos, eu acho que não preciso nem falar né.Eu mesmo joguei um brother com celular e tudo na piscina.Sem falar nos tradicionais festeiros que bebem e fazem muita bobagem.Pra mim, o melhor foi quem subiu na mesa, que tava rachada, ficou dançando em cima dela e ela não caiu.Mas também, ele não deve pesar 40 Kg.
É isso caro leitor.Acho que a "despedida"(se é que eu posso chamar assim)foi digna.Não sei por quanto tempo vai durar essa ideia de São Paulo, mas eu me conheço muito bem e sei que independente do vestibular da UnB eu vou acabar voltando.Existem coisas na vida que a gente tem que colocar como prioridade e os amigos que eu tenho aqui são uma delas.

Venha ver o pôr-do-sol. (conto comentado)

Primeiramente, quero dizer que, diferentemente dos contos aqui neste blog apresentados, este em particular eu não escrevi.Para ser honesto quem me dera saber escrever desta forma.Não sei como explicar, mas hoje, sem nenhum motivo, eu simplesmente me lembrei deste conto que eu li já faz uns três anos e me deu uma vontade enorme de publica-lo aqui.Sem dúvida, este conto é um dos que eu mais gostei até hoje e foi um dos que me fez começar a gostar de escrever histórias, ou pelo menos tentar.Alguns devem lembram dele, mas acredito que a maioria não o conhece. Adianto já que ele é um pouco longo, mas de qualquer forma dê uma olhada. Espero que tenham a mesma opinião que eu após a leitura.Agora sem mais enrolação, vamos ao nosso conto.


Venha ver o pôr-do-sol.

Ela subiu sem pressa a tortuosa ladeira.À medida que avançava, as casas iam rareando, modestas casas espalhadas sem simetria e ilhadas em terrenos baldios.No meio da rua sem calçamento, coberta aqui e ali por um mato rasteiro, algumas crianças brincavam de roda.A débil cantiga infantil era a única nota viva na quietude da tarde.
Ele a esperava encostado a uma árvore.Esguio e magro, metido num largo blusão azul-marinho, cabelos crescidos e desalinhados, tinha um jeito jovial de estudante.
- Minha querida Raquel.
Ela encarou-o, séria e olhou para os próprios sapatos.
- Veja que lama.Só mesmo você inventaria um encontro num lugar destes.Que ideia,
Ricardo, que ideia! Tive que descer do táxi lá longe, jamais ele chegaria aqui em cima.Ele riu entre malicioso e ingênuo.
- Jamais? Pensei que viesse vestida esportivamente e agora me aparece nessa elegância! Quando você andava comigo, usava uns sapatões de sete léguas, lembra? - Foi para me dizer isso que você me fez subir até aqui? - perguntou ela, guardando as luvas na bolsa. tirou um cigarro. - Hein?!
- Ah, Raquel... - e ele tomou-a pelo braço.- Você, está uma coisa de linda.E fuma agora uns cigarrinhos pilantras, azul e dourado... Juro que eu tinha que ver ainda uma vez toda essa beleza, sentir esse perfume. Então? Fiz mal?
Podia ter escolhido um outro lugar, não? -abrandara a voz. - E que é isso aí? Um cemitério? Ele voltou-se para o velho muro arruinado.Indicou com o olhar o portão de ferro, carcomido pela ferrugem. - Cemitério abandonado, meu anjo. vivos e mortos, desertaram todos.Nem os fantasmas sobraram, olha aí como as criancinhas brincam sem medo acrescentou apontando as crianças na sua ciranda.Ela tragou lentamente.Soprou a fumaça na cara do companheiro.
- Ricardo e suas ideias.E agora? Qual o programa? Brandamente ele a tomou pela cintura.
- Conheço bem tudo isso, minha gente está, enterrada aí.Vamos entrar um instante e te mostrarei o pôr-do-sol mais lindo do mundo.
Ela encarou-o um instante.E vergou a cabeça para trás numa risada. - Ver o pôr-do-sol!... ali, Meu Deus... Fabuloso, fabuloso!... Me implora um último encontro, me atormenta dias seguidos, me faz vir de longe para esta buraqueira, só mais uma vez, Só mais uma! E para quê? Para ver o pôr-do-sol num cemitério...
Ele riu também, afetando encabulamento como um menino pilhado em falta. - Raquel, minha querida, não faça assim comigo.Você sabe que eu gostaria era de te levar ao meu apartamento, mas fiquei mais pobre ainda, como se isso fosse possível.Moro agora numa pensão horrenda, a dona é uma medusa que vive espiando pelo buraco da fechadura...
- E você acha que eu iria?
- Não se zangue, sei que não iria, você está sendo fidelíssima.Então pensei, se pudéssemos conversar um pouco numa rua afastada... Disse ele, aproximando-se mais.Acariciou-lhe o braço com as pontas dos dedos.Ficou sério. e aos poucos, inúmeras rugazinhas foram-se formando em redor dos seus olhos ligeiramente apertados.Os leques de rugas se aprofundaram numa expressão astuta.Não era nesse instante tão jovem como aparentava.Mas logo sorriu e a rede de rugas desapareceu sem deixar vestígio.Voltou-lhe novamente o ar inexperiente e meio desatento.
- Você fez bem em vir.
- Quer dizer que o programa... E não podíamos tomar alguma coisa num bar?
- Estou sem dinheiro, meu anjo, vê se entende.
- Mas eu pago.
- Com o dinheiro dele? Prefiro beber formicida.Escolhi este passeio porque é de graça e muito decente, não pode haver um passeio mais decente, não concorda comigo? Até romântico.
Ela olhou em redor.Puxou o braço que ele apertava. - Foi um risco enorme, Ricardo. Ele é ciumentíssimo.Está farto de saber que tive meus casos.Se nos pega juntos, então sim, quero só ver se alguma das suas fabulosas idéias vai me consertar a vida.
- Mas me lembrei deste lugar justamente porque não quero que você se arrisque, meu anjo.Não tem lugar mais discreto do que um cemitério abandonado, veja, completamente abandonado - prosseguiu ele, abrindo o portão.Os velhos gonzos gemeram. - jamais seu amigo ou um amigo do seu amigo saberá que estivemos aqui.
- É um risco enorme, já disse.Não insista nessas brincadeiras, por favor. e se vem um enterro? não suporto enterros.
- Mas enterro de quem? Raquel, Raquel, quantas vezes preciso repetir a mesma coisa?! Há séculos ninguém mais é enterrado aqui, acho que nem os ossos sobraram, que bobagem.Vem comigo, pode me dar o braço, não tenha medo.
O mato rasteiro dominava tudo e não satisfeito de ter-se alastrado furioso pelos canteiros, subira pelas sepulturas, infiltrara-se ávido pelos rachões dos mármores, invadira as alamedas de pedregulhos esverdinhados, como se quisesse com sua violenta força de vida cobrir para sempre os últimos vestígios da morte.Foram andando pela longa alameda banhada de sol.Os passos de ambos ressoavam sonoros como uma estranha música feita do som das folhas secas trituradas sobre os pedregulhos.Amuada mas obediente, ela se deixava conduzir como uma criança. Às vezes mostrava certa curiosidade por uma ou outra sepultura com os pálidos, medalhões de retratos esmaltados.
- É imenso, hein? e tão miserável, nunca vi um cemitério mais miserável, que deprimente - exclamou ela, atirando a ponta do cigarro na direção de um anjinho de cabeça decepada. - Vamos embora, Ricardo, chega.
- Ali, Raquel, olha um pouco para esta tarde! deprimente por quê? Não sei onde foi que eu li, a beleza não está nem na luz da manDã nem na sombra da noite, está no crepúsculo, nesse meio-tom, nessa ambigüidade.Estou-lhe dando um crepúsculo numa bandeja, e você se queixa.
- Não gosto de cemitério, já disse.E ainda mais cemitério pobre.
Delicadamente ele beijou-lhe a mão.
- Você prometeu dar um fim de tarde a este seu escravo.
- É, mas fiz mal. Pode ser muito engraçado, mas não quero me arriscar mais.
- Ele é tão rico assim?
- Riquíssimo.Vai me levar agora numa viagem fabulosa até o oriente.Já ouviu falar no oriente? vamos até o oriente, meu caro...
Ele apanhou um pedregulho e fechou-o na mão. a pequenina rede de rugas voltou a se estender em redor dos seus olhos.A fisionomia, tão aberta e lisa, repentinamente escureceu, envelhecida.Mas logo o sorriso reapareceu e as rugazinhas sumiram.
- Eu também te levei um dia para passear de barco, lembra? Recostando a cabeça no ombro do homem, ela retardou o passo.
- Sabe, Ricardo, acho que você é mesmo meio tantã... Mas apesar de tudo, tenho às vezes saudade daquele tempo.Que ano aquele! Quando penso, não entendo como aguentei tanto, imagine, um ano!
- É que você tinha lido a dama das camélias, ficou assim toda frágil, toda sentimental.E agora? Que romance você está lendo agora?
- Nenhum - respondeu ela, franzindo os lábios.Deteve-se para ler a inscrição de uma laje despedaçada: Minha querida esposa, eternas saudades - leu em voz baixa. - Pois sim.Durou pouco essa eternidade.
Ele atirou o pedregulho num canteiro ressequido.
- Mas é esse abandono na morte que faz o encanto disto.Não se encontra mais a menor intervenção dos vivos, a estúpida intervenção dos vivos.Veja - disse apontando uma sepultura fendida, a erva daninha brotando insólita de dentro da fenda -, o musgo já cobriu o nome na pedra.Por cima do musgo, ainda virão as raízes, depois as folhas... Esta a morte perfeita, nem lembrança, nem saudade, nem o nome sequer.Nem isso.
Ela aconchegou-se mais a ele.Bocejou.
- Está bem, mas agora vamos embora que já me diverti muito, faz tempo que não me divirto tanto, só mesmo um cara como você podia me fazer divertir assim. - deu-lhe um rápido beijo na face.
- Chega, Ricardo, quero ir embora.
- Mais alguns passos...
- Mas este cemitério não acaba mais, já andamos quilômetros! - olhou para trás.
- Nunca andei tanto, Ricardo, vou ficar exausta.
- A boa vida te deixou preguiçosa? Que feio - lamentou ele, impelindo-a para a frente. - Dobrando esta alameda, fica o jazigo da minha gente, é de lá que se vê o pôr-do-sol.Sabe, Raquel, andei muitas vezes por aqui de mãos dadas com minha prima. Tínhamos então doze anos.Todos os domingos minha mãe vinha trazer flores e arrumar nossa capelinha onde já estava enterrado meu pai.Eu e minha priminha vínhamos com ela e ficávamos por aí, de mãos dadas, fazendo tantos planos.Agora as duas estão mortas.
- Sua prima também?
- Também.Morreu quando completou quinze anos.Não era propriamente bonita, mas tinha uns olhos... eram assim verdes como os seus, parecidos com os seus.Extraordinário, Raquel, extraordinário como vocês duas... penso agora que toda a beleza-dela residia apenas nos olhos, assim meio oblíquos, como os seus.
- Vocês se amaram?
- Ela me amou.Foi a única criatura que... Fez um gesto. - Enfim, não tem importância.

Raquel tirou-lhe o cigarro, tragou e depois devolveu-o.
- Eu gostei de você, Ricardo.'
- E eu te amei.E te amo ainda.Percebe agora a diferença?
Um pássaro rompeu o cipreste e soltou um grito.ela estremeceu.
- Esfriou, não? Vamos embora.
- Já chegamos, meu anjo.Aqui estão meus mortos.
Pararam diante de uma capelinha coberta: de alto a baixo por uma trepadeira selvagem, que a envolvia num furioso abraço de cipós e folhas.A estreita porta rangeu quando ele a abriu de par em par.A luz invadiu um cubículo de paredes enegrecidas, cheias de estrias de antigas goteiras. no centro do cubículo, um altar meio desmantelado, coberto por uma toalha que adquirira a cor do tempo. dois vasos de desbotada opalina ladeavam um tosco crucifixo de madeira. entre os braços da cruz, uma aranha tecera dois triângulos de teias já rompidas, pendendo como farrapos de um manto que alguém colocara sobre os ombros do cristo.Na parede lateral, à direita da porta, uma portinhola de ferro dando acesso para uma escada de pedra, descendo em caracol para a catacumba.
Ela entrou na ponta dos pés, evitando roçar mesmo de leve naqueles restos da capelinha.
- Que triste que é isto, Ricardo. Nunca mais você esteve aqui?
Ele tocou na face da imagem recoberta de poeira.Sorriu, melancólico.
- Sei que você gostaria de encontrar tudo limpinho, flores nos vasos, velas, sinais da minha dedicação, certo? Mas já disse que o que mais amo neste cemitério é precisamente este abandono, esta solidão.As pontes com o outro mundo foram cortadas e aqui a morte se isolou total.Absoluta.
Ela adiantou-se e espiou através das enferrujadas barras de ferro da portinhola. na semiobscuridade do subsolo, os gavetões se estendiam ao longo das quatro paredes que formavam um estreito retângulo cinzento.
- E lá embaixo?
- Pois lá estão as gavetas. e, nas gavetas, minhas raízes.Pó, meu anjo, pó - murmurou ele.Abriu a portinhola e desceu a escada.Aproximou-se de uma gaveta no centro da parede, segurando firme na alça de bronze, como se fosse puxá-la.
- A cômoda de pedra.Não é grandiosa?
detendo-se no topo da escada, ela inclinou-se mais para ver melhor.
- Todas essas gavetas estão cheias?
- Cheias?... Só as que têm o retrato e a inscrição, está vendo? nesta está o retrato da minha mãe, aqui ficou minha mãe - prosseguiu ele, tocando com as pontas dos dedos num medalhão esmaltado embutido no centro da gaveta.
Ela cruzou os braços. falou baixinho, um ligeiro tremor na voz.
- Vamos, Ricardo, vamos.
- Você está com medo.
- Claro que não, estou é com frio.Suba e vamos embora, estou com frio!
Ele não respondeu. adiantara-se até um dos gavetões na parede oposta e acendeu um fósforo.Inclinou-se para o medalhão frouxamente iluminado.
- A priminha Maria Emília. lembro-me até do dia em que tirou esse retrato, duas semanas antes de morrer... prendeu os cabelos com uma fita azul e veio se exibir, estou bonita? Estou bonita?... - falava agora consigo mesmo, doce e gravemente. - Não é que fosse bonita, mas os olhos... Venha ver, Raquel, é impressionante como tinha olhos iguais aos seus.
Ela desceu a escada, encolhendo-se para não esbarrar em nada.
- Que frio faz aqui.E que escuro, não estou enxergando !
acendendo outro fósforo, ele ofereceu-o à companheira.
- Pegue, dá para ver muito bem... - afastou-se para o lado. - Repare nos olhos.
- Mas está tão desbotado, mal se vê que é uma moça... - Antes da chama se apagar, aproximou-a da inscrição feita na pedra.Leu em voz alta, lentamente.
- Maria Emília, nascida em vinte de maio de mil e oitocentos e falecida... - deixou cair o palito e ficou um instante imóvel.
- Mas esta não podia ser sua namorada, morreu há mais de cem anos! Seu menti...
Um baque metálico decepou-lhe a palavra pelo meio.Olhou em redor. a peça estava deserta.Voltou o olhar para a escada.No topo, Ricardo a observava por detrás da portinhola fechada.Tinha seu sorriso – meio inocente, meio malicioso.
- Isto nunca foi o jazigo da sua família, seu mentiroso! Brincadeira mais cretina! - exclamou ela, subindo rapidamente a escada. - Não tem graça nenhuma, ouviu?
Ele esperou que ela chegasse quase a tocar o trinco da portinhola de ferro.Então deu uma volta à chave, arrancou-a da fechadura e saltou para trás.
- Ricardo, abre isto imediatamente! vamos, imediatamente! - ordenou, torcendo o trinco.
- Detesto este tipo de brincadeira, você sabe disso.Seu idiota! É no que dá seguir a cabeça de um idiota desses.Brincadeira mais estúpida!
- Uma réstia de sol vai entrar pela frincha da porta.Tem uma frincha na porta. Depois vai se afastanto devagarinho, bem devagarinho.Você terá o pôr-do-sol mais belo do mundo.
Ela sacudia a portinhola.
- Ricardo, chega, já disse! Chega! Abre imediatamente, imediatamente! - sacudiu a portinhola com mais força ainda, agarrou-se a ela, dependurando-se por entre as grades.Ficou ofegante, os olhos cheios de lágrimas.Ensaiou um sorriso. - Ouça, meu bem, foi engraçadíssimo, mas agora preciso ir mesmo, vamos, abra...
Ele já não sorria. estava sério, os olhos diminuídos.Em redor deles, reapareceram as rugazinhas abertas em leque.
- Boa noite, Raquel.
- Chega, Ricardo! você vai me pagar!... - gritou ela, estendendo os braços por entre as grades, tentando agarrá-lo. - Cretino! me dá a chave desta porcaria, vamos! - exigiu, examinando a fechadura nova em folha. -examinou em seguida as grades cobertas por uma crosta de ferrugem.Imobilizou-se.Foi erguendo o olhar até a chave que ele balançava pela argola, como um pêndulo.Encarou-o, apertando contra a grade a face sem cor.Esbugalhou os olhos num espasmo e amoleceu o corpo.Foi escorregando.
- Não, Não...
Voltado ainda para ela, ele chegara até a porta e abriu os braços.Foi puxando, as duas folhas escancaradas.
- Boa noite, meu anjo.
Os lábios dela se pregavam um ao outro, como se, entre eles houvesse cola.Os olhos rodavam pesadamente numa expressão embrutecida.
- Não...
Guardando a chave no bolso, ele retomou o caminho percorrido.No breve silêncio, o som dos pedregulhos se entrechocando úmidos sob seus sapatos.
E, de repente, o grito medonho, inumano:
- NÃO!!!
Durante algum tempo ele ainda ouviu os gritos que se multiplicaram, semelhantes aos de, um animal sendo, estraçalhado.Depois, os uivos foram ficando mais remotos, abafados como se viessem das profundezas da terra.Assim que atingiu o portão do cemitério, ele lançou ao poente um olhar mortiço.Ficou atento.Nenhum ouvido humano escutaria agora, qualquer chamado.Acendeu um cigarro e foi descendo a ladeira. crianças ao longe brincavam de roda.


(Lygia Fagundes Telles. "Venha ver o por do sol e outros contos").

A reta final.

Nossa como o tempo passa voando.Seis meses já se foram e muita coisa já aconteceu.Parece que o começo foi ontem.Atualmente, no cursinho pré-vestibular a situação tá até engraçada de se ver.Ninguém se quer tem disposição mais para estudar.Tem quem fica matando o tempo sem fazer nada, tem quem durma nas camas da biblioteca(sim lá tem camas!), tem quem fica a tarde vendo os jogos da copa, tem alguns amigos que choram, tem outros quem vão beber no Piauí e uma pequena parte tá realmente trancafiada nas salas de estudos se matando ou pelo menos fingindo se matar. Bom, eu tô entre a maioria não tem como. Eu tava fazendo uns dias atrás até uma reflexão sobre o meu ritmo de estudos e eu cheguei a conclusão de que absorver alguma coisa dos livros e apostilas tá cada vez mais difícil.Acho que isso é reflexo geral de quem tá nessa situação como eu.Chegamos a meses atrás ao nosso ritmo máximo, ficamos até altas horas nos cursinhos da vida estudando, aulas extras, bibliotecas, simulados... Hojé em dia, acho que se eu ver uma apostila eu boto fogo!
Poisé, agora falta quase uma semana e confesso eu tô com uma sensação de inquietação misturada com medo e confiança. Sim confiança porque eu me sinto agora melhor preparado do que ano passado e algumas coisas tem acontecido nestes meses que me fazem estar assim. Passei em São Paulo em uma prova esquisita e meio confusa. Claro, era particular a faculdade, se chama FAAP até falei dela neste blog anteriormente, mas me senti tão bem quando vi meu nome na lista de aprovados. Precisava daquilo. Passei também na federal de Urberlândia a UFU. De fato, foi só a primeira fase e para um outro curso, tendo em vista que eles não disponibilizaram o curso de Direito para este vestibular, por isso, coloquei Relações Internacionais. Gostei muito de ter passado nesta universidade pois eu realmente não esperava. Acabei aprendendo no cursinho a achar o meu desempenho em simulados e em vestibulares sempre uma bosta! Acho que alguns entendem perfeitamente isto.E para completar, recebi hoje uma nóticia maravilhosa descobri que a demanda por vaga para o curso de Direito caiu drasticamente. de trinta e seis canditados por vaga, valor que possuia o 2º vestibular de 2009, despencou para dezenove por vaga. Dezenove!Quase não consegui acreditar e tava pra chorar de alegria.Contudo, mesmo com esses aspectos todos me dando esperanças de passar, o medo e sempre uma constante. Em parte, porque estou recebendo muito apoio de familiares e amigos, muito mais que no ano passado digasse de passagem, e sempre fica aquele orgulho de não querer decepcionar ninquém. Do mesmo modo, a possibilidade de fazer outro cursinho e enfretar tudo isso denovo é uma decisão extremamente remota. Logo, tenho encarrado essa prova como a decisiva. Por causa disso já tomei a precaução de garantir a minha matrícula na FAAP e de qualquer maneira já estudarei o mês de Agosto lá em São Paulo.Entretanto, se o pior acontecer eu não sei ainda o quê vou fazer. O quê já garanto é que minha vontade de ficar por esta Brasília tem sido bem maior e confesso que algumas pessoas em especial tem pesado mais sobre esta minha vontade. Algumas que mesmo em tão pouco tempo tem me feito tão feliz. A vida realmente nos prega surpresas. Tenho de declarar também que nestes meses que passaram, Não posso dizer realmente que não me diverti. Teve o Carnaval em Salvador, encontro com amigos, barzinhos, festas de amigos, minha festa de aniversário e até mesmo quando viajava para estudar dava um jeito de tornar a viagem possitiva e não massante e cansativa até mesmo, na hora da prova. Em Goiânia então quando fui fazer a UFU foi mais engraçado. Meu fiscal de prova era um goinão típico imagina ele falando está frase "Após terminar a prova erga o braço e espere ser atendido pelo fiscal. Após o termino do tempo de prova não poderão mais escrever no caderno de questões". Imaginou? Poisé foi bem hilário. Em São Paulo também foi bem legal. Revi meus avós paternos, minhas primas e tios, conheci a faculdade e fiquei impressionado com o quando era bela. Possuia uma arquitetura bem anos 30 muito elegante. Vi também que a faculdade ficava bem perto do estádio do Pacaembú e fiquei imaginando se depois eu fosse ver jogos ali com alguns amigos e claro, revi a grande São Paulo que sempre nos surpreende com o sua imagem de cidade centro do país e acabei ficando com uma vontade de ficar lá um pouco mais do que os dois dias que fiquei em função da prova. Então não posso dizer que nestes tempos eu tenho perdido minha vida e virado alguém anti-social. Agora, posso dizer concerteza de que nunca estudei tanto e cheguei ao meu máximo. Não estudei da forma esteriotipada de ficar se matando, perdendo o convivio dos amigos e as noites de sono. Fiz o que podia e talvez eu pudesse fazer até melhor do que já fiz.Talvez podia está estudando agora ao invés de escrever aqui, porém tenho certeza de que não importa o que vira daqui a poucos dias, tudo será reflexo do que tenho feito até agora e garanto que darei o melhor que tenho.

O melhor do acervo