À estrela polar sul da nação.

Ao olhar este planalto central, seus modernos edifícios, suas ruas sem nome e matemática única, entra-se em um paradoxo de ódio e admiração que só os brasilienses podem confirmar. O cotidiano da capital, inúmeras vezes, nos faz dela ficar indignado, seja pelo Governo do Distrito Federal, que sai administração, entra administração, continua a nos fazer de palhaço, seja pela alta burguesia da cidade, que consegue ser desmesuradamente nojentíssima, usando ainda aquele velho jargão do "você sabe com quem esta falando", andando com seu nariz empinado ou a escravidão que temos do funcionalismo público, contudo, Brasília nos propõem uma enorme admiração em ações tão triviais, como dirigir no eixo monumental, em meio do entardecer, descendo do memorial JK ao Palácio do Planalto, algo gratificante por si só. Dentro, portanto, desta dicotomia entre amor e ódio, o documentário "Rock Brasilia", em cartaz e que ontem tive o privilégio de assistir, tende só a reforçar e , particularmente ao meu ver, aquele em detrimento deste.
O documentário da santíssima trindade do Rock Brasiliense : Plebe Rude - Legião Urbana - Capital Inicial , que também contava com a participação dos Paralamas do Sucesso, muito embora sua formação seja bem mais carioca, mostra como Brasília era amada, de forma que hoje pouco se encontra e que nossos jovens da Colina viveram numa cidade onde eu daria tudo para viver. O engajamento político que a capital tinha naquela época era algo admirável, o aparecimento do aborto elétrico demostra muito isso, sendo uma pena cada vez mais as pessoas se afastarem do tema, julgando-o chato ou irrelevante. Fato é, que a vida de Brasília nas décadas de 70 e 80 era viva! Ninguém ficava fechado no seu próprio individualismo e o florescer de ideias e encontro de amizades era algo completamente natural, não uma atitude, beirando a burocratização, que faz com que a convivência com nossos amigos se mantenha. Seria pedir demais sair para fazer programas inusitados ou de última hora sem que isto lhe desgaste, sem que as pessoas fiquem no "ah nem" e recusem-se a ir pela pura intenção de não ir ? Aonde está a falta de julgamento ? O velho vamos ver no que isso vai dar. As pessoas acomodaram-se no seu próprio ócio e hoje os brasilienses fazem religiosamente os mesmos programas ! Naquela época, Brasília era outra. A vida da geração coca-cola demostrava o quanto esta cidade e eles tinham para mostrar. Escutar as entrevistas do Renato Russo durante todo o documentário era algo excepcional. Ele podia ser estrelinha ou qualquer coisa assim, mas era um cara diferente, era alguém que valia a pena ter conhecido.
Assistir ao documentário é algo que julgo essencial aos brasilienses. Notar como era a geração que viveu no planalto antes da gente. Perceber o quanto, talvez, tenhamos entrado num comodismo, parado de pensar, começado a odiar a cidade, quando se vê o quanto ela ainda pode crescer por nossas mãos. A vida em Brasília e muito mais viva do que apenas o Pier 21, o pontão, a Moena e o Park Shopping ! Principalmente, muito além da cidade da corrupção. Nosso silêncio em relação a isto só faz reforçar nossa fama nacional.
Não devemos ter de retroceder, desesperadamente, a uma Brasília punk-rock, para buscar alguma existência, quanto esta ainda pode possuir. Inquestionavelmente, pode ser uma cidade de contrastes e torta, mas já diria Nicola Behr: " Nem tudo que é torto é errado, veja as pernas do garrincha e as árvores do cerrado."

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